A política é uma piada!

Andei muito pelo interior do Estado do Rio durante o período das campanhas políticas eleitorais que participei nos anos 80 e 90. Reuniões animadas, algumas cansativas e arrastadas e situações bizarras e interessantes.

Lembro como se fosse hoje de um desses causos. Foi uma reunião política em um auditório de escola para um candidato a deputado que buscava o apoio do prefeito local. Sentados diante do público, na mesa principal lado a lado, estavam dois dos vereadores da cidade, o candidato a deputado, o prefeito com a esposa e dois ilustres comerciantes.

Tudo ia bem com as falas de praxe se alternando, até que entra atrasada uma mulher levando uma criança pela mão, um menino de uns cinco anos de idade. Ela sentou na segunda fileira, diante da mesa principal.

É necessário um parênteses na narrativa, neste ponto.
O Prefeito que era o anfitrião do encontro tinha uma característica física dessas que os caricaturistas adoram, um detalhe que tirava a simetria do rosto e chamava a atenção: uma orelha diferente e muito grande.

O candidato a deputado, orador do momento, ao avistar o menino da segunda fileira com a mesma orelha, a cara cuspida do prefeito, decidiu ser simpático e comenta no microfone.

  • Prefeito, nem precisa anunciar a chegada do seu filho…

Fala, virando de lado para olhar o prefeito. E continua sorridente:

  • Muito bonito o garoto. A cara do pai. – E faz um gesto com as mãos na direção do menino.

Dali em diante a coisa desanda. Fecha o tempo. A esposa do Prefeito perde as estribeiras. Começa a dar tapas e socos no marido e a gritar.

  • Está vendo? Até o deputado percebeu que esse moleque é filho seu com essa sem-vergonha! Você nega, mas a cidade inteira fala pelas minhas costas!

O prefeito ainda tentava acalmar a mulher, mas não teve jeito: aos berros para o auditório e a cidade inteira ouvir, ela dizia que o menino era filho dele e não adiantava ele negar.

O candidato olhava tudo constrangido, enquanto a mulher repetia:

  • Até o moço que nem é daqui, percebeu e confirmou! E o candidato tentava se explicar:
  • Eu não falei nada. Eu não confirmei nada.

A esta altura do campeonato, já tinha melado a reunião, o apoio político e qualquer possibilidade de acordo.

Fomos embora de fininho, quase à francesa, mas depois no carro, ninguém conseguiu segurar as gargalhadas. Os votos se foram, mas a situação hilária ficou. E para sempre.

Em outro episódio, em outro município, em outra campanha, a reunião política foi na Câmara dos Vereadores local. Estavam presentes candidatos da oposição e da situação e ainda uma assistência bem barulhenta que, com muito entusiasmo, vaiava e aplaudia os oradores.
A discussão do encontro girava em torno de uma estrada. Não lembro os detalhes, mas parece que metade da população queria que a estrada passasse por dentro da cidade e a outra metade, que passasse por fora.

As discussões estavam acirradas, quando um dos oradores, um vereador, defendendo o seu ponto de vista foi interrompido subitamente por um grupo de pessoas que, em coro, da plateia, começou a puxar o refrão: “Filho da p, filho da p”.

Eu, observando tudo, estranhei toda aquela agressividade contra o jovem vereador que, como os outros que o antecederam, apenas defendia o seu ponto de vista. Mas ele reagiu de maneira tão inusitada e surpreendente que vou tentar reproduzir o que ouvi, palavra por palavra:

  • “Todo mundo aqui na cidade sabe qual era a profissão da minha mãe. Ela foi pioneira, foi a dona do primeiro bordel das redondezas. Fui criado no meio das prostitutas e tenho muito orgulho da minha mãe. Vergonha deveriam ter os frequentadores do bordel, casados que estão aqui presentes; e que se elegeram a vida inteira defendendo a bandeira da moral e dos bons costumes”.

Arrancou aplausos. Expôs a hipocrisia. Mas a reunião também terminou mal. Muita gente vestiu a carapuça e na plateia começaram diversas brigas e discussões paralelas em voz alta. A razão de ser da reunião foi esquecida. Nem sei que fim levou a estrada.

Uma coisa é certa: Mãe é mãe. Mas para não perder a piada, vale o registro:

Foi a primeira e única vez que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente um orgulhoso e legítimo filho da p*.