Antuérpia’s

Cenas de hospital I

Antuérpia é o nome de uma cidade na Bélgica, mas era também o nome de duas mulheres. Uma de 92 anos já com seu dever cumprido, filho criado e netos encaminhados. E outra com apenas 38 anos de idade, dois filhos pequenos e um marido atencioso. O Universo resolveu brincar e internou as duas quase ao mesmo tempo, no mesmo hospital.

Claro que a jovem Antuérpia odiava o seu nome. Sofreu muito quando criança com as piadas, depois, recebeu o apelido carinhoso de Duda e seguiu em frente com a vida. Era simpática e alegre o que fez Eduardo se apaixonar logo de cara por ela.

Seu único problema eram suas crises de gastrite, virava e mexia, Eduardo precisava correr com Duda para o hospital. Uma horinha no soro com analgésico e logo voltavam para casa.

Desta vez não foi diferente. Eduardo, ficou na recepção jogando no celular enquanto aguardava a esposa.

O filho da outra senhora, a dos 92 anos, também já idoso, preocupado com a sua diabetes, desceu para fazer um lanche na cafeteria.

Neste momento, um médico chega à recepção com um prontuário nas mãos e pergunta:Quem é o acompanhante da sra. Antuérpia?

Sou eu, reponde Eduardo, largando o celular.

Lamento muito, mas a paciente veio a óbito.

O mundo gira na cabeça de Eduardo. Sente uma fraqueza nas pernas e enjoo.Como assim? Duda morreu? Morreu de que?Como?

O médico estranha o desespero de Eduardo e fala devagar:Sua mãe já vinha de uma série de complicações de saúde.

Mãe?! Eduardo tentou explicar que Duda era sua esposa. Mas não conseguiu falar nada. Viu ficar tudo escuro na sua frente e só se lembra de acordar em uma maca com uma enfermeira ao seu lado buscando um acesso para colocar algo em sua veia.

Tenta levantar-se para procurar Duda, mas é contido pela enfermeira que avisa que sua pressão estava muito alta e que ele precisava se acalmar.

Enquanto isso, a coisa só complicava.

Duda já refeita recebe alta e sai à procura do marido.
Não o encontra na sala de espera onde o deixou. Liga para o seu celular e… nada. Senta-se e espera.

Já meio lento com a medicação, Eduardo vai se recuperando e o médico que o socorreu aparece para saber como ele está.

Foi o senhor que falou que a Duda morreu? Pergunta Eduardo. Não consigo entender. Minha esposa só estava com uma dor no estômago?

O médico fica parado alguns segundos, depois olha novamente o papel e fala:Estamos falando da sra. Antuérpia.

Sim, minha esposa, confirma Eduardo.

O médico acha muito estranho aquele homem jovem ser casado com uma idosa de 92 anos, mas achou melhor não se estender no assunto. Pede licença, vai até a enfermeira e solicita a ficha e o prontuário completo da sra. Antuérpia.

Enquanto isso, Duda, cansada de esperar, resolve procurar o marido pelos corredores até que uma auxiliar finalmente o viu e responde:Um de camisa polo azul?

-Sim. Responde Duda animada.Ele passou mal depois que soube da morte da mãe.

Misericórdia! Diz Duda. Minha sogra morreu!?

Pega o celular correndo e liga para a casa da sogra. A própria atende.

Duda, sem graça, pergunta por Eduardo, a sogra responde seca:Até onde eu sei, ele estava no hospital com você.

Duda desliga e procura pela auxiliar de enfermagem que deu a notícia fake da morte da sogra.

A auxiliar não entende nada, mas direciona a jovem esposa para onde provavelmente, o seu marido estaria se recuperando.

Quando Duda entra e Eduardo vê a esposa, todos os aparelhos começam a apitar ao mesmo tempo. Eduardo começa a gritar agitado:

-Você está viva! Graças a Deus!! Você está viva!

Duda sem entender nada, fala baixinho no ouvido dele tentando acalmá-lo…Claro que estou viva, meu amor. E sua mãe também está viva. Fica tranquilo.

Minha mãe?! O que aconteceu com a minha mãe? Pergunta nervoso Eduardo pouco antes de ter outro piripaque.